E foi assim que me tornei um porcaria nenhuma na vida. Sem religião, sem
partido político, sem time do coração, sem saber tocar plenamente um
único instrumento musical. Tudo me enche o saco. Natais em família,
festas noturnas, discussões de trânsito, entrevistas de emprego, fazer
supermercado, sexo tântrico, banho de espuma, a música “The End” dos
Doors, viajar de avião, montar prateleiras, sala de espera de
oftalmologista, delivery de comida chinesa, qualquer graduação em
comunicação ou marketing, tudo que demora mais de quinze minutos me
enche o saco. Por isso eu nunca termino nada. Por isso eu não tenho
coisa alguma. Por isso eu fiz nada. Nunca me dei o trabalho de me tornar
alguém interessante e nem incrível. Eu sou médio, um ser muito do mais
ou menos. Não sou um ingrediente essencial para a sociedade. É como se
meu relógio-biológico tivesse um botão “foda-se”. Sei que é um clichê, e
que as pessoas usam essa expressão pra tudo, mas se alguma coisa faz
algum sentido é isso de “foda-se”.
Gabito Nunes