quinta-feira, 5 de abril de 2012
Ela queria conseguir odiá-lo, mas no fundo ainda restava amor. Mesmo que ela negasse ou não quisesse. Mesmo que eles já não tivessem mais nada em comum, ainda restava amor - talvez só da parte dela, mas restava, sim. Ela queria conseguir não pensar no sorriso bobo que ele dava toda vez que ela contava uma piada idiota, mas não conseguia. Ela queria esquecer do seu cheiro, seu cabelo, suas manias, suas manhas, suas músicas, suas manhãs ao lado dela. Ela queria esquecer que um dia ele passou por sua vida, mas estava difícil. Ainda era amor, mesmo que mascarado com mágoas, lágrimas e histórias não acabadas. Tudo havia ficado muito vago. Ele saiu e nem fechou a porta. Ela chorou e nem pediu para que voltasse. Ele arranjou outra em menos de uma semana. Ela procurou em outros o que sabia que só iria encontrar nele. Ele procurou numa outra específica o que jamais tinha encontrado nela. E ela, calando os gritos de desespero, chorou baixinho por não ter sido boa o suficiente. Ele, mesmo cantando músicas alegres nos ouvidos alheios, chorou sozinho por ter sido um imbecil. Ela ainda não se reergueu, mas deixou de demonstrar fraqueza. Ela passa pela rua dele exibindo sorrisos a cantarolando boleros antigos. Ele abaixa a cabeça e a olha disfarçadamente. Ela sai com outros caras, bebe pra esquecer dos problemas e se esquece até dos nomes dos próprios caras. Mas o nome dele, ela não esquece, não. É “João” daqui, “João” dali. Em qualquer mesa que ela pare, João se torna seu assunto mais repetitivo. “O tal do João que eu já havia lhe contado, aquele que fodeu meu coração” - falava para quem a conhecesse há mais de dez minutos. E ele, mesmo se importando, já não tocava mais no nome dela. E isso era o que mais a feria. Ele se mostrava indiferente. Nem raiva, nem amor, nem mágoas, João, simplesmente, parecia não sentir mais nada por ela. A porta pela qual ele saiu, permanece aberta. A gaveta que ele deixou quase vazia, já está com coisas dela. As fotos que eles tinham espalhadas pela casa, já foram postas no fogo e nem as cinzas restam mais. Era amor, mas era um amor mal resolvido. Era um amor covarde da parte dele; um amor infantil da parte dela. Mas era amor, ainda é, e talvez, nunca deixe de ser.
“O problema é que você queria um amor de filmes, e eu só conseguia te dar a prévia. Você queria dias juntos, enquanto eu só era capaz de ficar nos fins de tarde. Você sempre quis um abraço longo, mas eu não aguentava ficar perto por mais de dois segundos. Você era muito viciante. Muito perigosa. Você vinha com um aviso me dizendo pra ficar longe… E eu queria obedecer. Queria mesmo, só que não conseguia. Porque tinha alguma coisa nos seus olhos que praticamente me pedia pra tentar, não desistir e insistir. Tinha uma vozinha presa na sua garganta que só chamava meu nome, e eu não sei como ouvi. Sinceramente, você fingia muito bem não se importar. Fingia muito bem que conseguia viver tranquilamente sem mim. Mas o seu problema é que você só fingia. Só isso. E forjar um sorriso, uma atitude ou uma indiferença é fácil demais. Forjar palavras de repulsa e um pouquinho de receio também. O seu problema era que por trás de tudo isso, você não alcançava suas próprias expectativas. Atrás da sua armadura, só havia alguém que me queria ali. Pra cochichar algo em seu ouvido ou até pra assistir um filme debaixo do edredom. Em contrapartida, o meu problema foi que eu me apaixonei. O meu problema era que eu não conseguia ir embora, nem por um segundo. O meu problema foi ter ficado. E deixado tudo pra trás. E amado. Até o último fio de cabelo. Quer saber? O nosso problema foi ter pertencido tanto um ao outro que não sabíamos mais viver sozinhos. Foi termos nos tornado unicamente dependentes da droga que nós mesmos havíamos produzido. E o pior deles… O nosso maior problema foi que… Não parecia um problema. Não, até o momento que você foi embora. Não parecia um problema, a não ser depois que você saiu pela porta e esqueceu seu cheiro aqui. Comigo. Em mim. Me matando pouco a pouco. Como se fosse o pior vício de todos. E era mesmo.”
— Letycia A.
Renata Reviano
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