
A solidão não é um tédio, é um remédio. É na solidão que travamos as
melhores conversas de nossas vidas, porque só em silêncio absoluto é
possível ouvir a voz do nosso próprio coração. É quando a boca se cala,
não há ninguém para trocar palavras e nem sorrisos, que devemos buscar a
nós mesmos. Notem que as pessoas que detestam ficar sozinhas, são as
mais desesperadas pela fuga, assim como crianças que fogem das lições
dadas pelos pais. A solidão é um luxo, não um lixo. Nos aproxima de nós
mesmos, como nada mais faz. As melhores ideias certamente surgiram
nestes momentos introspectivos e trancados numa sala vazia. Livros
surgem, é claro, pela observação do mundo mas, depois disso, são
necessários inúmeros momentos de reflexão e solidão. Porque somos aquilo
que somos, sem medo ou vergonha. Quem tem medo de ficar sozinho, tem
medo da própria repressão. Tem medo do próprio julgamento. Mas quem é
que pode crescer sem uma briga interna? Devemos travar nossas próprias
batalhas para desenvolver nossas estratégias de guerra. Chorar, ler um
livro, inventar teorias sobre o universo, criar um poema, estudar toda a
matéria de história e tentar ligar os fatos, cantar uma música
nostálgica, abrir uma página qualquer de um livro qualquer e, a partir
daquele trecho, tentar se lembrar da continuação. A solidão é uma
dádiva, não uma dívida! Falar sozinho, rir para o espelho, olhar para o
teto, fazer uma obra de arte, ver fotografias. Alguém duvida de que são
esses os momentos em que nos encontramos? Alguém duvida de que no choro,
refletimos sobre felicidade; no livro, sobre metalinguagem; na música,
sobre o que éramos algum tempo antes e no espelho, sobre quem somos
hoje? É um encontro do eu com o eu. E quer alguém melhor para nos
entender do que nós mesmos? A solidão tem mais vantagens do que se
pensa.