“A gente meio que se acostuma com canalhas. Como
aquele que te faz pensar em sexo no banheiro de balada. Bonito, com
camisa de marca, relógio Armani no pulso e jeito meio idiota. Te pega
pela risada e com os sórdidos três dedos na cintura. Você não sabe se tá
zonza por causa do perfume, do sorriso escanteado ou pelo olhar sutil
que ele traçou entre os seus seios, sua nuca e sua boca. Tem como não
dançar? Digo que na lata que é covardia. O cara sussurra no seu ouvido
que passou a noite inteira te olhando, e você nem sequer se lembra de
como se faz de difícil numa hora dessas. Lá no fundo, sabe que canalhas
românticos não ligam no dia seguinte. Mas, pra que se importar? De vez
em quando eles até convidam para o cinema na próxima semana, em filme
daqueles bem vagabundos que você só consegue lembrar como foi que ele te
beijou da última vez ou quando pode deixar que aquilo acabe na sua
cama. Acho sacanagem à capacidade que eles têm de te fazer rir com humor
inteligente. Tem coisa mais chata que homem bonito, engraçado e
inteligente? O pior é que tem: canalhas que confundem a cabeça da gente.
Sabe bem? Zoam o cabelo, falam do seu modo de andar e acham graça na
careta que você faz quando se pega perdida no meio de uma conversa. Te
perturbam com a mania de deixar subtendido o que pode acontecer ou não.
Sexo de sexta pode virar namoro, beijo na testa é quase como eu te amo, e
o abraço é um claro “eu não sei mais viver sem você”. É tipo de cara
que mexe com a gente fazendo tudo errado pra tu se envolver. E nada é
tão bom quanto ser tirada do sério por um bom idiota. Você quer se
livrar, mais não sabe como, quer partir pra outra até se dá conta que o gosto de um canalha nunca te deixa em paz. É
como um cigarro. O prazer imenso de passa-lo pelos dedos e levar ao
lábios. Canalhas como esses são irresistíveis pelo simples fato de fazer
tudo o que você não quer. Ou será que quer? A gente tem a
incapacidade de resistir a uma resposta e eles de fazer qualquer coisa
que esteja fora da sua consciência de dizer não. Eles tem um bom sexo,
uma boa conversa, e péssimo hábito de deixar o cheiro de perfume
importado pelo quarto, enquanto vão embora no meio da madrugada. Não se
lembram de deixar um bilhete no travesseiro, muito menos de ligar no dia
seguinte. Mas no fim da noite, a gente senta no balcão e pede pra
descer uma dose de canalha, da pior espécie, se for possível. Danielle Quartezani.