“Que todos os caminhos, me encaminhem pra você.” Vinícius de Moraes
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Você me liga de madrugada e diz que me ama. Eu desligo na sua cara e digo que odeio que me acordem no meio da noite. O fato é que eu odeio mesmo, mas e daí? Sendo você, o que vier é sempre bom. Mas não admito, jogo o celular na parede e volto a dormir. Acordo no outro dia com uma cara evidente de não-dormi-pensando-em-você e, coincidentemente, você tá na minha porta esperando eu sair pra trabalhar. Você beija minha testa e fala que o meu perfume é o melhor do mundo, e isso dói porque, bem no fundo, eu sei que é mentira. Você me oferecere uma carona e, como sempre, eu recuso porque tenho pavor de andar de moto. Digo qualquer besteira - já que estou atrasada - e vou embora. Você larga a moto em frente a minha casa e vem atrás, dizendo que moça bonita como eu não pode andar por aí desacompanhada. Tenho vontade de sumir, mas mesmo assim sou simpática pra parecer mais normal, óbvio. Chegamos no escritório que trabalho, e você faz uma cara de “Cadê meu beijo de despedida?”, eu não respondo e digo um “Até logo”, porque sei que, querendo ou não, eu vou voltar a te ver. Passo o dia inteiro fazendo as mesmas coisas e obedecendo as mesmas pessoas, enquanto você, desempregado e excessivamente preguiçoso, com certeza deve estar em uma festa, dizendo pra outra que o perfume dela é o melhor do mundo. Particularmente, não costumo me dar bem com pessoas que bebem, mas sempre me apaixono pelo contrário do que esperam. Saio do trabalho às 6 da noite e lá está você de novo, me esperando na porta. Começo a chorar na sua frente e você não entende nada, pra variar. Percebo de longe que você está bêbado, mesmo que pouco. Vamos juntos à um barzinho de esquina e, como esperado, você bebe ainda mais. Eu, pra espantar a melancolia, bebo também. Uma vez só não faz mal. Começamos a falar da vida alheia e me divirto com suas piadas. Começa a ficar tarde e você me leva pra casa. Entro e você faz questão de entrar também. Quase levo um tombo na escada e você começa a rir da minha cara. Me jogo na cama e você se senta do lado, só pra olhar mesmo. Menos de 2 minutos depois eu já tô dormindo e, sonhando com você. Acordo no outro dia com uma ressaca daquelas. Percebo que você já havia ido embora, quando o celular toca. Desligo e começo a chorar, porque mesmo que por poucas horas, eu consegui ser feliz, e ao seu lado. Mas de que adianta? No fim da noite eu vou voltar a te odiar, porque sinceramente, eu sei que toda madrugada você bebe e fala pra outra que o perfume dela é sem dúvida, o melhor do mundo.
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer. Martha Medeiros
O mundo é redondo e gira por algum motivo. Tudo, tudinho que a gente faz não é em vão. Nosso esforço, nossas recompensas, nosso sofrimento, nossa alegria, nossos tropeços, nossos sorrisos, nossos obstáculos, tudo isso tem um porquê. Ou muitos porquês. Isso agora não importa. O que importa de verdade é o que você faz com os seus sentimentos. Para receber o bem a gente deve fazer o bem. E isso significa cuidar de cada ação ou palavra: não faz bem para a alma alimentar sentimentos ruins. Clarissa Corrêa
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