sexta-feira, 4 de maio de 2012

Estava vivendo à base de cafeína nos últimos dias. E de tudo que o fosse mantê-lo acordado por um bom tempo. Não suportava mais tentar dormir e não conseguir. Precisava de algo menos fútil para justificar a sua insônia. Qualquer coisa mais útil do que um amor cheio de marcas e feridas. Não dormiria de qualquer jeito mesmo… Tinha comprado seis fardos de coca-cola pra deixar em cima da mesa, quinze pacotes de café. Não comia. Só bebia qualquer coisa que não tirasse sua lucidez. Porque apesar de tudo, ele não queria esquecer. Apesar de tudo ele queria continuar lúcido, se lembrando de tudo, relembrando, e de novo… E mais uma vez. Não tinha ninguém. Recebia o desprezo e o devolvia de forma pior. Quase não chorava, mas sabia o quanto aquilo doía. Se perguntava o tempo todo por quê não podia dar certo, se perguntava por quê tudo não podia voltar a ser como antes. Por quê havia abandonado suas doses de tequila por um copo de coca-cola, uma dose de vodka por um copinho de café. Masoquismo? Ou talvez apenas a vontade passar a noite em claro, olhando para as estrelas de madrugada, da forma em que elas mais lembravam-no de tudo. Da forma em que elas chegavam a inspirá-lo na melhor forma de conquistar, ou reconquistar aquele alguém que havia perdido. E duvidava da perda. Duvidava, na verdade, de que um dia teve. Gostava de sentir o café fervendo queimando seus lábios. E de parar a xícara enquanto o sentia esfriar. Só pra simular o que havia acontecido. Havia esfriado. Só usava camisetas regatas com um samba-canção, em pleno inverno. Queria sentir o frio. Só pra simular mais uma vez, e outra… E de novo. Não parava de pensar em tudo sequer por um segundo, e mesmo estando perturbado, forçava vez ou outra os pensamentos a voltarem. Só pra tentar entender um pouco melhor. Era só um garoto masoquista. Ou homem. Era só alguém querendo sentir a dor. Era só alguém louco gritando para a dor explicar o que estava acontecendo. Mas nem mil noites em claro seriam capazes de lhe fazer entender tudo o que sentia. E nem mil noites em claro tirariam aquele sentimento de dentro dele.  
João Pedro Bueno

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