“Escrevo isso e choro. Porque quero tanto e não quero
tanto. Porque se acabar morro. Porque se não acabar morro. Porque
sempre levo um susto quando te vejo e me pergunto como é que fiquei
todos esses anos sem te ver. Porque você me entedia e dai eu desvio o
rosto um segundo e já não aguento de saudade. E descubro que não é tédio
mas sim cansaço porque amar é uma maratona no sol e sem água. E ainda
assim, é a única sombra e água fresca que existe. Mas e se no primeiro
passo eu me quebrar inteira? E se eu forçar e acabar pra sempre sem
conseguir andar de novo? Eu tenho medo que você seja um caminhão de luz
que me esmague e me cegue na frente de todo mundo. Eu tenho medo de ser
um saquinho frágil de bolinhas de gude e de você me abrir. E minhas
bolhinhas correrem cada uma para um canto do mundo. E entrarem pelas
valetas do universo. E eu nunca mais conseguir me juntar do jeito que
sou agora. Eu tenho medo de você abrir o espartilho superficial que
aperto todos os dias para me manter ereta, firme e irônica. Minha
angústia particular que me faz parecer segura. Eu tenho medo de você
melhorar minha vida de um jeito que eu nunca mais possa me ajeitar,
confortável, em minhas reclamações. Eu tenho medo da minha cabeça rolar,
dos meus braços se desprenderem, do meu estômago sair pelos olhos. Eu
tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser amiga, de deixar de
ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de ser sozinha, de
deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho muito medo de
deixar de ser.” Tati Bernardi.
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