domingo, 2 de dezembro de 2012


Eu deixei você arrumar as malas e sair pela minha porta, simplesmente, deixei. Pensei que seria como das outras vezes: depois de vinte minutos você voltaria dizendo que já estava com frio. Quando eu te vi chorando, colocando todas as roupas em uma mala apertada, tudo bagunçado, dizendo que nunca mais queria me ver na sua frente, que eu fui o pior cara que já tinha conhecido, eu perdi o rumo. Fiquei sem fôlego, não conseguia dizer uma palavra, não conseguia chorar, gritar. Como se o meu coração estivesse congelando, como se as borboletas estivessem indo embora do meu estômago. E você ficou ainda mais brava por eu não ter demonstrado absolutamente nada, nem uma lágrima pra compensar. Eu deixei você partir, deixei você chamar um táxi, carregar as malas até a minha calçada, debruçar e chorar, deixei você ir embora como se não sentisse mais a sua falta. Na hora, naquele minuto, não consegui sentir nada. Não senti dor, arrependimento, solidão, nada mesmo. E nem o cheiro do seu perfume sendo carregado pelo vento. Eu te perdi, te perdi por ser um otário, um babaca apaixonado em futebol, que não sabe agradar a namorada com um jantar à luz de velas em um final de semana, um cara que não sabe surpreendê-la com um beijo roubado, com um sorriso tirado pela piadinha mais sem graça do universo, pelo cafuné. Sua boca sempre foi macia. Sempre foi um vício pra mim. Nossos beijos eram os melhores. Você ficava linda com o meu agasalho azul, deitada no sofá, de calcinha, implorando carinho. Que saudade. Sem dúvidas, foi o que restou, além de um pedacinho de mim. Você me levou junto, me colocou dentro da sua mala e partiu. Uma parte de mim se foi com você, a minha melhor parte, a minha parte engraçada e corajosa que entendia bem pouco sobre amor. Você levou o pouco que restou de mim. Isso seria estúpido: levar algo que deixou para trás. Eu deixei você sumir na neblina; eu deixei você. Assumo, nunca foi o melhor namorado, o melhor parceiro, companheiro, amigo e nem nada, assumo mesmo. Eu nunca fui o melhor pra você. Foi mal, hoje eu escrevo em entrelinhas todos os meus erros e a saudade que ficou comigo, ao contrário de você. Se passaram vinte minutos e você não voltou como antes, o táxi realmente era mais encantador do que eu. Quem diria. Eu pensei que te entendia por completa, que sabia os seus filmes preferidos, as suas manias, os seus costumes, tudo mesmo. Eu jurava viver em você, a sua volta, sabendo dos seus perigos, dos altos e baixos, suas crises de ciúmes. Eu sabia dos seus medos, das risadas sarcásticas, do que te fazia bem ou mal, cara. Porra, mas mesmo assim , eu deixei à desejar com você, deixei você ir embora pra longe e pra sempre. Decorei as suas saudades, os seus cafunés, aprendi a dançar, a não gaguejar quando ficasse nervoso, a não atropelar preposições e a falar menos palavrão. Cadê você? Isso me tortura cada dia mais. Quando não sinto mais o seu cheiro nas minhas roupas, quando não vejo os sutiãs e as calcinhas jogadas pelo banheiro, os sapatos espalhados pela casa inteira, quando não te vejo, quando não vejo os nossos retratos. Isso me mata. Eu errei ao soltar da sua mão, eu sei, eu deixei você ir embora sozinha com todos os perigos por aí, logo você, uma mulher linda, os perigos triplicam. Se você estivesse aqui aposto que bateria o pé e teimaria comigo, dizendo que já é independente e que sabe se cuidar sozinha, sem alguém pra protegê-la. E como eu queria ouvir isso agora vindo de você, da sua boca, sussurrando nos meus ouvidos. Você sempre foi teimosa o bastante pra brigar comigo por tudo, até por programas de tevê, até nas novelas que eu tanto odiava, mas só assistia pra te fazer companhia. Eu, no fundo, era um cara legal. Era legal por você. Os minutos já se passaram, você não bateu na minha porta, não voltou e eu, ah, e eu? Meu rumo era você e eu a perdi. Meu telefone ainda é o mesmo, ainda moro na mesma rua, na mesma casa, aquela mesmo que você amava bagunçar depois que custávamos arrumar. Ah, se você soubesse o quanto eu sinto a sua falta, o quanto eu queria ter respirado fundo e segurado o seu braço pra você não entrar naquele táxi. Quem sabe o destino estava certo sobre nós. Minha ficha ainda não caiu. Fico sentado por horas e horas na minha porra de calçada, esperando ouvir os seus passos correndo até minha direção. Pode falar: eu sonho alto pra caralho, né?

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