terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Sou flor nascida em meio à areia quente do deserto. Durante o dia, bebe em minhas pétalas, gotículas de orvalho, o sol. E tudo isso para durante a noite, o vento frio e seco ameaçar levá-las embora, areia afora. Meus dias são longos e silenciosos. De vez em quando vejo passar um caminhante. Nos seus passos sinto o barulho forte das ondas, ouço a gritaria violenta das nações. Muitos já se deitaram à minha sombram, segregando pecados, com medo da morte enquanto caravanas seguem seus destinos. Tivesse eu condições, com eles seguiria caminho, mas aqui dizem que é meu destino: Flor nascida em meio à areia quente do deserto. Na minha ignóbil posição, avisto os pontos mais distantes do mundo. Quando eu penso que desfaleço, emerge o sol, do ventre da terra ainda úmida. Quando o cansaço se apossa da minha alma, deito meu canto ao pôr-do-sol. Constantemente, visita-me o sopro da vida, apara-me as folhas caídas, o vento mais forte limpa as pétalas, tirando o pó dos caminhantes, vento ameno. Nos dias mais quentes, desfruto do calor do sertão para a noite, sentir a suavidade dos campos em colheitas. Contemplo as sementes trazidas, embora não finquem raízes em minhas terras. Sou flor nascida em meio à areia quente do deserto, mas rica é a minha raiz de esperanças. Sonho com a chuva que rega as plantações, com o perfume das flores nos campos verdes, com a brisa das montanhas. Que alguns de meus polens, despejados por aí, tenham alcançado o Oásis, deitados estejam em terras amolecidas pelos rios que nunca secam. Sou flor nascida em meio à areia quente do deserto. Mas sei que um dia, contemplarei os campos cheios de rebanhos, caminharei por vales onde brotam espigas de trigo e cevada. Finalmente, em qualquer dia desses, deitarei raízes em terra firme e fértil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário