terça-feira, 23 de abril de 2013


Eu falo demais. Eu falo muito, não é? Você sempre disse. Mas você sempre entendeu, também. Mesmo quando eu atropelei as palavras e perdi o compasso e a linha do raciocínio, mesmo quando eu mudei as histórias para explicar uma única coisa e depois de contá-las já não lembrei mais o porquê de estar contando-as. Você sempre entendeu, mesmo que nunca tenha entendido de verdade. Você nunca entendeu. Nunca. Quando eu precisei por muitas vezes que você absorvesse as coisas que eu dizia ao invés de apenas entende-las, você não o fez. Quando eu liguei no meio da noite e disse que o frio estava me perturbando e que coberta nenhuma me esquentaria, você não compreendeu. Você ouviu, você prestou atenção, mas ler entre as linhas nunca foi algo de que você pudesse se gabar. E eu estou aqui mais uma vez escrevendo ao invés de ir correndo te contar. Talvez eu crie coragem e te revele tudo em uma carta, em um telefonema corajoso, ou em um encontro casual. Ou talvez eu apenas guarde tudo mais uma vez. Tenho algumas vontades absurdas apesar de ter muito medo também. E como eu queria que você entrasse por aquela porta agora mesmo, me tomasse essa folha das mãos e lesse mesmo que eu implorasse para que não tudo isso que escrevo tão pesadamente agora. Mas eu mudei a fechadura da porta, e já não guardo a chave reserva no mesmo lugar de antes. Eu mudei tantas coisas… o corte de cabelo não é mais o mesmo, as roupas estão diferentes agora, e a decoração do apartamento foge de tudo o que me lembra você. Mas onde foi parar você agora que eu nem sei mais? Aquele bar ainda é nosso ou agora é seu e de outra pessoa? Já está levando alguém para dormir no meu lugar na sua cama ou ainda está esperando os lençóis enfriarem? Você prometeu que quando eu morresse esperaria ao menos um ano antes de encontrar alguém. Por favor, diga que ainda está de luto por tudo o que fomos e já não somos mais. Diz que o sol ficou preto, que os pássaros gritam fora das gaiolas, e que não para de ouvir a nossa música. Diz qualquer coisa, bate na minha porta que eu abro ela pra você. O que eu não quero mais é não ter o que fazer com todo esse amor e carinho se acumulando dentro do peito e invadindo cada pedaço de mim que se esvaziou sem você.

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