“Aí você volta cheia de pressa em se livrar de mim e eu penso que tudo bem. E eu nem te amo mesmo.
Não é você. E lá vem você me perguntar porque é que estão todos
casando, e falar pela trigésima vez que você vai acabar sozinho e não
deve nada a ninguém. E lá vem você me olhar apaixonada e, no segundo
seguinte, fria. E me falar para eu não sofrer e para eu ir embora e para
eu não esperar nada e para eu não desistir de você. E eu me digo
que não é você. Porque, se fosse, meu sono seria paz e não vontade de
morrer. Me despeço, já sem aquela dor aterrorizante, das partes de você
que mais amo. Ainda que eu nem te ame mesmo. E me despeço das partes da
sua casa que eu mais amo. Ainda que nada disso seja amor. Preciso me
aliviar. O mundo não suporta mais esse meu não amor por você. Meus
amigos espalmam a mão na minha cara e já vão logo adiantando que se eu
pronunciar seu nome, eles vão embora sem nem olhar para trás.
Remédios só me deixam com um bocejo químico e a boca do estômago triste,
mas não tiram você do meu coração. E escrever, que sempre foi a única
coisa que adiantava para os dias passarem menos absurdos, já se tornou
algo ridículo. Escrever sobre você de novo? De novo? Tenho até vergonha. Nem eu suporto mais gostar de você. E
olha que nem gosto. E no meio da noite, quando eu decido que estou
ótimo afinal de contas tenho uma vida incrível e nem amava mesmo você,
eu me lembro de umas coisas de mil anos e começo a amar você de um jeito
que, infelizmente, não se parece em nada com pouco amor e não se parece em nada com algo prestes a acabar.” Tati Bernardi.
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