Tempos atrás eu tinha um certo vício de comer o canto da
unha. Sabe aquele cantinho que incomoda, causa uma dorzinha e você fica
louco para poder tirar com uma simples puxadinha com o dente? Então, eu
fazia isso – as vezes ainda faço – até doer, até arder, até sangrar.
Não me contentava com uma sangradinha não, o dedo tinha que estar
jorrando sangue para que eu me sentisse satisfeita. E meio que era
engraçado, porque a minha mãe vivia me enchendo o saco dizendo: “Tira o dedo da boca menina”, “Vou te entupir com remédios de verme” ou então “Qualquer dia desses isso vai te deixar com apendicite”.
Apenas ria. Ai a gente cresce e passa a entender que existem outros
tipos de vícios, vícios piores, vícios que dá vontade de voltar com os
vícios antigos, vícios do tipo pessoa. E percebe o quanto era menos
doloroso sentir aquela dorzinha do canto da unha do que perder alguém
que tanto ama. Que deixar o dedo jorrar sangue era menos preocupante do
que pensar se a pessoa que ontem era tudo, vai continuar sendo seu tudo
amanhã. Que ouvir os gritos da minha mãe era mais agradável que os
gritos do coração. E também até duvido que aquela apendicite que ela
tanto me alertava, teria doído tanto quanto a dor da saudade de quem
partiu e nunca mais voltou. É mãe, se você me visse agora, estaria era
rindo do meu novo vício. Thiara Macedo
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