Amor não se pede, é uma pena. É uma pena correr com pulinhos
enganados de felicidade e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração
inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante
altista de quem constrói sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei
que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô
sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo
resolver meu problema? Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva,
eu sei. Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você
amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate
seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter
tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças
sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou
sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia. Mas não dá, nem de
brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra
sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, não se pede, é
triste, eu sei bem. É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque
seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um
dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste
respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado,
aquele cheiro que acalma a busca. É triste amar tanto e tanto amor não
ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz. Tanto amor
querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado.
É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar,
substituir, esquecer,implorar. É triste lembrar como eu ria com ele. Mas
amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa?
Ele sabe, ele sabe. Tati Bernardi.
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