sábado, 31 de agosto de 2013

 

O melhor do namoro, claro, é ridículo. Vocês dois no telefone: “Desliga você.” “Não, desligue você.” “Você.” “Você.” “Então vamos desligar juntos.” “Tá, conta até três.” “Um…Dois…Dois e meio….”. Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra?, eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. (Gongonha!) Mamosa. Purupupuca. Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá, olho no olho, dizendo: “as dondozeiras amam os dondozeiro.” “Ama.” “Mas os dondozeiros amam mais as dondozeiras do que as dondozeiras amam os dondozeiros.” “Na-na-não. As dondozeiras amam mais do que etc.”. E,entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de amígdalas, beijos catetéricos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais. Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só pra ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que não vê, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo. E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas. Luis Fernando Veríssimo

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