Dizem que tudo na vida tem dois lados. Um bom e outro
ruim. Depende nos olhos de quem está a pimenta. Mas se tem algo
realmente ambiguo para uma única alma é um troço chamado saudade. Com ou
sem primenta nos olhos. O dito popular é quem melhor traduz a dualidade
de uma saudade quando diz que esta é a maior prova de que o amor valeu a
pena. Então sentir a falta é bom. E ruim. Em todos os pontos de vista.
Vai entender… Saudade é amar um passado que nos machuca no presente. É
uma felicidade retardada. É deitar na rede e ficar lembrando das
ardentes reconciliações depois de brigas homéricas por motivos
desimportantes. Sente-se falta de detalhes, como uma toalha no chão,
dias chuvosos, da cor dos olhos. A saudade só não mata porque tem o
prazer da tortura. Saudade é o amor que não foi embora ainda, embora o
amado já o tenha feito. Ter saudade é imaginar onde deve estar agora, se
ainda gosta de vinho bordeaux, se chorou com a derrota do Grêmio no
campeonato nacional, se tem tratado aquela amigdalite. E quando a
saudade não cabe mais no peito, se materializa e transborda pelos olhos.
Sentir saudade é ter a ausência sempre do seu lado. É mudar
radicalmente a rotina, comer mais salada e menos sorvete, frequentar
lugares esquisitos, ter dias mais compridos, ter tempo para os amigos,
para o vizinho e para a iguana do vizinho. A saudade é a inconfortável
expectativa de um reencontro. Às vezes a saudade é tão grande que nem é
mais um sentimento. A gente é saudade. É viver para encontrar o olhar da
pessoa em cada improvável esquina, confundir cabelos, bocas e perfumes,
sorrir com os lábios tendo o coração sufocado. Porque mesmo a saudade
sendo feita para doer, às vezes percebemos que ela é o meio mais eficaz
de enxergar o quanto amamos alguém, no passado ou no presente. Por que a
saudade é o muro de Berlim desmoronado no chão, capaz de agregar
opostos, como a tristeza e a felicidade em uma coisa híbrida. Se você
tem saudade é sinal que teve na vida momentos de alegria com ela ou ele!
No fim das contas, a saudade que agora lhe maltrata nada mais é que uma
dívida sendo paga em longas 36 prestações pelo amor usufruído. Agora
aguenta. Gabito Nunes
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