sábado, 3 de março de 2012

Eu me recuso a levantar da cama, me recuso enfrentar mais um dia, a fingir que sou forte e que estou feliz. Chega de mentir pra mim mesma, estou triste, magoada, abalada e desta vez não vou sorrir e agradar ninguém. Eu só quero ficar aqui, escondida, refugiada, só não quero decepcionar ninguém, nem me magoar. Os dias tem sido difíceis, tive que sufocar minhas palavras, meus gritos, minhas lágrimas, por mais que de vez em quando me peguei choramingando pelos cantinhos, peguei uma lágrima rolando pelo meu rosto sem eu querer, tive que engolir a seco tudo que vi e ouvi como se não me afetassem, como se não machucassem. Sinto-me perdida, com um olhar caído e um coração surrado, destruído, quebrado. Por mais que me recuso com todas as forças a levantar sei que é necessário e preciso. O dia está nublado, escuro, frio, parecido com meus sentimentos e ao me levantar visto um casaco e uma calça e saio pela porta de trás. Não quero ver minha mãe, não quero ver ninguém, não por enquanto. Não havia muito movimento na rua, algumas pessoas passavam por mim e nem notavam que meus olhos estavam inchados, que meus cabelos estavam despenteados, que meu nariz estava vermelho e que eu estava totalmente relaxada comigo mesma, pra elas parecia que eu era invisível. E talvez eu fosse mesmo. Não sou uma boa companhia, nem uma boa amiga, nem sirvo pra ser namorada de ninguém, sou ciumenta, mandona, teimosa, irritada, desastrada e extremamente sensível, mas nada disso vem ao caso. Saio chutando as pedras que encontro pelo caminho e fico relembrando tudo que passei nos últimos dias, tudo que passei nos últimos meses. Lembro de como foi difícil perder você, como foi difícil ver todos contra mim, como foi difícil ver meus amigos em quem eu confiava tantos irem embora, me abandonarem quando eu mais precisei. Paro em frente a uma vitrine de uma loja de sapatos, vejo alguns modelos, mas não me interesso por nenhum e nem estou exitada para escolher nenhum. O vidro está bem brilhoso e limpo e posso ver meu próprio reflexo, me assusto com o que vejo, mas é a mais pura verdade: eu estou sozinha nesse momento em que mais preciso, lutando com minhas proprias forças pra superar barreiras que parecem ser eternas. Vejo também em como sou forte, forte em agüentar tudo isso que passo. Talvez eu não seja tão forte pra superar e seguir de cabeça erguida, mas é que tenho sentimentos e esses me empurram pra baixo a cada segundo que passa. Retomo meu caminho de cabeça baixa, voltando a chutar as pedrinhas que encontro, com as mãos enfiadas no bolso penso em tudo que passei e uma onda de tristeza e saudade me invade de tal maneira que sinto meu corpo se desmoronar por dentro e sinto minhas pernas bambas, me apoio num poste que encontro e respiro fundo enquanto tento segurar as lágrimas que resistiam em rolar em meu rosto. Depois de alguns segundos me sinto pronta para caminhar novamente e seco as lágrimas que restaram com a mão, vejo que minha maquiagem se borrou toda e não me importo. Pra que ficar se importando com beleza se caráter é tudo? Encontro uma pracinha e procuro um banco para sentar, mas não é difícil, pois a pracinha não está muito movimentada por estar frio e por estar cedo. Fico um tempo olhando as crianças brincarem, felizes e alegres, mal sabem elas o que iriam enfrentar após alguns anos: a vida dura e difícil, uma das piores coisas do mundo. Talvez viver não seja tão ruim, eu é que a transformei em um monstro por não saber viver. Resolvi sair dali, estava pressentindo que uma saudade iria invadir meu corpo e me abater novamente e isso eu não queria. Voltei pra casa e entrei pelas portas do fundo e por sorte não encontrei minha mãe. A casa estava escura com algumas frestas de luz que vinham da janela e parecia que além de mim, ninguém tinha acordado. Fui para meu quarto e enchi a banheira de água, tirei a roupa e me deitei. Mergulhei numa avalanche de emoções, sentimentos e por alguns segundos quis me afogar e acabar de vez com aquela imensa dor, porém ainda acredito que dá pra viver, que é tudo uma fase e logo, logo as coisas iram melhorar. Por enquanto eu vou seguindo em frente, com o olhar perdido, os sentimentos surrados e o coração destruído.  

~' Coração - de - Gelo '~

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