sábado, 10 de março de 2012


Não nego que já desejei ser princesa, com longas saias pregueadas e singelos sorrisos. Já quis ser perfeita antes mesmo de saber o que era isso, já me fantasiei quando criança, pintei meus lábios de rosa, fiz-me boneca. Acreditei em um principe encantado, em felizes para sempre. Quem nunca acreditou? Ou talvez eu tenha sido a única a me iludir, a querer que existisse outro mundo, mais mágico, mais belo, menos cruél. Talvez eu tenha algum problema. Mas não nego: já quis ser princesa. Até que cresci. Até que eu vi o mundo em 3D, com todas as falhas, altos e baixos. Vi o mundo desde o Planalto em toda sua glória até a África com toda pobreza e doença. E descobri que não tem graça alguma em ser perfeita. Descobri que não conseguiria viver sem ver a uma comédia romântica atirada no sofá, rindo alto e comendo pipoca. Descobri que a vida não teria graça nenhuma se eu não pudesse me entupir de chocolate e refrigerante quando eu ficasse de tpm. Se eu fosse perfeita, não poderia falar alto num grupo de amigos, contar piadas, cantarolar alto em casa, dançar na frente do espelho, sair e chegar de madrugada pisando mansinho no chão. Não poderia chorar escandalosamente, gritar e discutir com meus pais, não poderia errar, fazer burrada. Perfeição não é algo esplêndido e glorioso. Não se resume a um rosto simetricamente bonito, a um corpo esguio e magro. Quer saber? Perfeição é algo relativo. Você cria a perfeição, você julga se algo é perfeito ou não. Não quero mais ser princesa, nem perfeita, se isso significar viver uma vida reclusa e hipócrita, abdicando de quem eu sou de verdade. Meu padrão de perfeição passa longe da estética. Eu fico aqui no meu quarto, com meu coque dessarumado, meus jeans, meus romances. Ando pela casa descalça, meu rosto não é esteticamente perfeito. Ouço qualquer estilo de música, mas tenho preferência pelas internacionais. Bato cabeça escutando rock. Tenho espinhas, cravos, essa parafernália toda de adolescente. Meu sorriso não é perfeito, meus dentes não são certinhos. Eu não sou certinha. Eu erro, eu não vivo sem meu sanduiche de queijo e hamburguer e minha latinha de coca cola, eu me flagelo por comer tanto e não conseguir me ver livre desses pneuzinhos na cintura, eu detesto as minhas pernas mas fico horas me admirando na frente do espelho pensando: “Puta merda, eu casava comigo!” Eu sou sensível embora não demonstre, eu choro fácil, me machuco por uma mera palavra. Não sou um manequim da Vogue, não sou perfeita, não sou princesa. E isso não quer dizer absolutamente nada. Não quer dizer que eu não me sinta como uma princesa, que eu não me ame do jeitinho que eu sou, mesmo nas minhas crises existencias quando eu exclamo descabelada que me odeio. Não quero ser uma merda simetricamente bonita, quero ser eu mesma, com todos os erros, as crises, os medos. No final todos nós, princesas, reis, presidentes, contadores de banco, estudantes, revolucionários, teremos o mesmo fim. Quem quiser se sentir superior, bonitinho, pede pra ser cremado.
 - Juliana Nery

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